quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

no interior do rio

No interior do Rio
de Janeiro, Barra do Piraí.

anotações para um livro de viagens.

Capítulo Rio de Janeiro

do Rio de Janeiro, conheço seus portais:
Novo Rio, rodoviária
Galeão, aeroporto &
Central do Brasil.

conheço o Rio dos Livros,
de Machado de Assis
tô lendo o livro sobre o profeta Gentileza
e observo o Rio de Chico Buarque.

Barra do Piraí, 24.12.9.
Rodolfo Silva

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

manifesto contra anistia aos torturadores



DIGA NÃO À ANISTIA PARA OS TORTURADORES, SEQUESTRADORES E ASSASSINOS DOS OPOSITORES À DITADURA MILITAR



Hoje é dia da Justiça e do lançamento da Campanha Contra a Anistia aos Torturadores.

Os crimes praticados durante a ditadura são crimes contra a humanidade e nesta medida não podem ser anistiados.

Em breve o Procurador Geral da República apresentará parecer sobre a matéria na ação (ADPF nº 153) que tramita no Supremo Tribunal Federal, que em sua decisão estabelecerá um novo marco de democracia para o país.

Pela importância desta decisão, o Comitê Contra a Anistia aos Torturadores, estabeleceu, num primeiro momento, que faremos uma "petição on line".

Precisamos a maior adesão possível de pessoas ou entidades.

Precisamos que todos enviem mensagem para todos os contatos possíveis e imagináveis, do Brasil e de fora, para :

a) informar da campanha ( o texto esta em português, inglês e espanhol)

b) pedir subscrição de pessoas e entidades

c) pedir para colocar o banner da campanha ( abaixo) em sites para a maior divulgação possível.

Saudações

Comitê contra a anistia dos torturados

uma iniciativa da associaçao de juizes pela democracia,

em 08 de dezembro de 2009

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

confinamento de professores



perguntei a dois amigos advogados sobre a (i)legalidade do que diz o edital de convocação para a 2a fase do concurso para professor da rede estadual de ensino do Ceará.

no item 2.7 do referido edital, lê-se:

"No dia de realização da prova prática (aula), em cada turno de sua realização, OS CANDIDATOS PERMANECERÃO CONFINADOS em uma sala de espera, por aproximadamente 4 horas." [grifo meu]

ambos, experientes concurseiros de outrora:
1) ficaram surpresos com os termos do edital;
2) chegaram à conclusão de que ninguém é obrigado a ser confinado, mas ao deixar de fazê-lo será eliminado do certame.


colegas professores(as) sentem-se - eu junto - sentimo-nos, no mínimo, desrespeitados.

mas, o que esperamos mesmo de um país que valoriza (qualquer que seja o sentido adotado e interpretado desse vocábulo) tão pouco seus educadores e educadoras?

talvez, o que mereçamos seja mesmo o confinamento!

não seria melhor, mais trágico, o banimento?

no fim das contas, essa 2a etapa do concurso será um verdadeiro reality show,
um misto de BigBrother com Ídolos com Se vira nos trinta.

afinal
estaremos confinados
seremos filmados
apresentaremos performances diante de 3 jurados, ops!, avaliadores
e
eliminados ou não.


Fortaleza, 10.12.9.
Rodolfo Silva

domingo, 6 de dezembro de 2009

para ler Kafka

"Se um livro que estamos lendo não nos desperta como um golpe na cabeça, por que o lemos? Meu Deus, seríamos felizes também se não tivéssemos livros, e se os livros que nos tornam felizes, pudéssemos nós mesmos escrevê-los. Mas os livros dos quais temos necessidade são os que caem sobre nós como a desgraça, que nos perturbam profundamente como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como um suicídio. Um livro deve ser como uma picareta que rompa o mar de gelo que está dentro de nós."
Kafka
(epígrafe do livro Coélet, de Gianfranco Ravasi,
Edições Paulinas, 1993)


bem,
para mim, a obra de Franz Kafka era LO++ , segundo o sistema de notações criado por Pierre Bayard (*). mas sou grato a uma professora de teoria literária (que tive há um ano). ela, simplesmente, adotou "A metamorfose" para ser estudado durante sua disciplina. tal vetor kafkiano mudou, drasticamente, minha trajetória de leitor.





voltando-me a Bayard, anotei logo no início da leitura do livro (em 16.10.8) a seguinte frase, em relação ao que acabara de ler: "eu poderia ter escrito tal parágrafo."


"Nascido em um meio onde se lia pouco, não apreciando esta atividade e de todo modo não tendo tempo de me dedicar a ela, com frequência me vi, por conta de determinadas circunstâncias, habituais na vida, em situações delicadas nas quais fui obrigado a me expressar a respeito de livros que não tinha lido."
(Como falar dos livros que não lemos?
Pierre Bayard
Editora Objetiva, 2007)




(*) LO + +: livro de que ouvi falar; opinião muito positiva.








bem ou mal,
pelo menos com a leitura das narrativas de Kafka, quero poder falar de algo que sei, gostaria de saber, aproximando-me, tangenciando o(s) sentido(s).


talvez por ser fim-de-ano, me atrevo a propor ler os livros kafkianos em 2010.
(pura influência do genial livro que descobri no fim-de-semana passado:)










Kafka de Crumb (Introducing Kafka)
textos de David Zane Mairowitz
desenhos de Robert Crumb
Relume Dumará, 2006
















para uma introdução ao universo kafkiano,
sugiro mais dois livros:






à esquerda:
Lição de Kafka
Modesto Carone
Companhia das Letras, 2009


à direita:
Kafka
Gérard-Georges Lemaire
L&PM, 2006

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

bolha de sabão

para Rosana, irmã.

"guarda o teu coração
porque dele provém
a vida."
Livro de Provérbios, 4:23

ontem de tarde,
fui à padaria comprar pão e mortadela.
na rua da padaria vi uns meninos brincando:
um sobre o muro, soprando bolas de sabão: inúmeras divertidas efêmeras.
outros, na calçada, caçavam as bolhinhas em suas piruetas: leves esféricas brilhantes.

a vida é um dia: bolha de sabão.
cabe nesse dia, o sopro do menino.
espelha no colorido da superfície redonda, o universo:
enquanto cresce
enquanto voa
enquanto desce.

no papoco
não poupa
(não pouca) alegria!


Fortaleza, 4.12.9.
Rodolfo Silva








quinta-feira, 26 de novembro de 2009

passagens (1)

excertos de leituras que se aproximam:


“Antes que mergulhem os pássaros, novo rumor se inicia, este em Cecília: soalhas de pandeiros. Respondem logo ao rumor, à direita, com um pouco mais de intensidade, outros tantos pandeiros, tangidos por meninas entre dez e treze anos. Eis-nos escoltados pelos dois cordões do pastoril, sete figuras de um lado, com longas saias vermelhas; sete de outro, com longas saias azuis, algumas desbotadas. Entre os dois cordões e de tal modo que parte do seu corpo trespassa o de Cecília, vai a Diana, vestida de azul e vermelho, sinal de que pertence às duas alas. No pandeiro redondo, maoir que os das pastoras e que ela faz soar com os braços levantados, também esvoaçam fitas vermelhas e azuis. Das mesmas cores é o grande laço que prende seus cabelos crespos. As pernas da Diana e as de Cecília, dançando as da primeira, andando as da segunda, trançam-se. Nem todas as meninas trazem pandeiros. Duas conduzem uma cesta com jambos, laranjas e mangas-rosas; duas sobraçam dálias, lírios e açucenas. A Diana, cessando de tocar, ergue ainda mais os braços, faz-se silêncio e todos nós paramos. Rugem leões verdes, nas ondas, entre os peixes. As pastoras, de repente, iniciam uma loa, marcando o compasso da música com os pés e os pandeiros, estes enfeitados de fitas como a grande roda desaparecida:

Vinde, vinde, moços e velhos,

Vinde todos apreciar,

Como isto é bom, como isto é belo,

Como isto é bom e bom demais.

Osman Lins, Avalovara – T 12: Cecília entre os leões (1973)



“Outro fator de encantamento poético, no filme, são as maravilhosas roupagens, coroas e máscaras do teatro nordestino, que ali aparecem de passagem. O povo do Nordeste sabe, com uma arte estranha e poderosa, criar a beleza a partir da miséria, e consegue manter sua grandeza no meio da maior degradação. As moças vestem-se de dianas, princesas, damas e rainhas; os homens, de reis mouros, cruzados, príncipes e cavaleiros, com máscaras de couro e coroas de lata, espadas de madeira e chapéus de formas estranhas, cravejadas de pedrarias, que parecem templos asiáticos. São os pobres e belos sonhos do povo que se veste assim para sonhar com o poder e a glória, cujas portas, na vida, lhe são trancadas.”

Ariano Suassuna, “Cinema e Sertão” (sobre o filme ‘O País de São Saruê’, de Vladimir Carvalho) (1972)



“A fome latina, por isto, não é somente um sintoma alarmante: é o nervo de sua própria sociedade. Aí reside a trágica originalidade do Cinema Novo diante do cinema mundial: nossa originalidade é a nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida. [...]

Nós compreendemos esta fome que o europeu e o brasileiro na maioria não entende. Para o europeu é um estranho surrealismo tropical. Para o brasileiro é uma vergonha nacional. Ele não come, mas tem vergonha de dizer isto; e, sobretudo, não sabe de onde vem esta fome. Sabemos nós - que fizemos estes filmes feios e tristes, estes filmes gritados e desesperados onde nem sempre a razão falou mais alto - que a fome não será curada pelos planejamentos de gabinete e que os remendos do technicolor não escondem mas agravam seus tumores. Assim, somente uma cultura da fome, minando suas próprias estruturas, pode superar-se qualitativamente: a mais nobre manifestação cultural da fome é a violência.

Glauber Rocha, “Eztetyka da Fome” (1965)


Fortaleza, 26.11.9.

Rodolfo Silva

domingo, 22 de novembro de 2009

neve e abismo: ler e escrever


procuro um título,
talvez reescrever.

a imagem e a experiência
da neve e do abismo:
sei o que é,
nunca vivi.

ler e escrever
(a literatura):
sei o que é?
vivo?

Fortaleza, 22.11.9.
Rodolfo Silva

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

pássaro feito de pássaros



"afla na sala pássaro feito de pássaros"
Avalovara, N2


anotações de leitura: Avalovara

"Segura-me os dois braços e, pela primeira vez, pela primeira vez, beija-me no rosto.
Oferece o rosto para que eu retribua. Beijo-a na boca. Parte o trem.
Ela acena com o bicho cercado de borboletas."
A 20: Roos e as cidades


"O corpo de Cecília libera os seus entes:
enfermos e famintos, gente sem vez, que a sua compaixão
- também morta - procura resgatar."
T 17: Cecília entre os leões





Fortaleza, 19.10.9.
Rodolfo Silva

Rodolfo e a Fotografia - 7a Exposição


fotografias de Rodolfo Silva na exposição


Qualquer arte tangencia o limite da realidade, da linguagem, da própria arte. Tem uma tendência à margem.

Propor uma nova visão é lugar comum à arte – desde o século 20 e seu incrível maquinário?

Em lugares de arte, pelas ruas de Fortaleza, pergunta-se: “qual o lugar da arte?” – não é esse o tema do 60º Salão de Abril, neste ano?

A Universidade é lugar de arte? De um certo conhecimento... Talvez a arte devesse ser uma janela, uma margem, na pior das hipóteses, um excremento da universidade – reciclável, claro, límpido.

Workshop sobre a “Nova Visão”. Uma exposição de olhares da universidade: de fora pra dentro, de dentro pra fora, fora fora, dentro dentro: nova visão. Fotógrafos inexperientes, imprudentes, experientes, peritos, artístas, metidos. Uma democracia da arte.

Do lado de fora da universidade. Ao lado do lixo. À margem. No muro marginal, na rua marginal.

As fotografias no muro: janelas – bordas viradas pra dentro da universidade – olhos pra fora, vendo o que a universidade não vê.


Rodolfo olha a exposição!


Fortaleza, 19.10.9.

Rodolfo Silva

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Rodolfo e a Fotografia - 6a Exposição

em busca de nova visão.
a fragmentação veloz da percepção visodigifococitisito-all.


Fortaleza, 8.10.9.
Rodolfo Silva

Rodolfo e a Fotografia - 5a Exposição

Nova Visão - Neues Sehen


foi entre os dias 28 e 30 de setembro que aconteceu: workshop sobre a estética da Nova Visão alemã (na Casa de Cultura Alemã/UFC, juntamente com Instituto Goethe e DAAD).

vimos, fotografias e filmes que foram produzidos a partir da perspectiva da vanguarda artística da 1a metade do século 20.

símbolo do Bauhaus











Moholy-Nagy


Umbo













proposta:
sair, ao sol de meio-dia e fotografar o Campus do Benfica/UFC e seu entorno.

Fortaleza, 8.10.9.
Rodolfo Silva

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

passeio de Belchior

ERA UM PACATO CIDADÃO SEM DOCUMENTO
NÃO TINHA NOME PROFISSÃO NÃO TINHA TEMPO
MAS CERTO DIA DEU-SE UM CASO
E ELE EMBARCOU NUM DISCO
E FOI LEVADO PRA BEM LONGE
DO ASTERISCO EM QUE VIVEMOS

daqui pra lá de lá pra cá
(Fagner/Zeca Beleiro/Torquato Neto)

não é por nada não, mas...
sem querer incentivar qq teoria da conspiração, mas...

ontem, peguei a reportagem sobre o Belchior, no Fantástico, no finzinho e não entendi o que era...
hoje, novamente - até me perguntei: será que Belchior morreu!?

mas, depois, entendi: ele desaparecera!

só então, percebi o que acontecera:

desconfiado de algo,
voltei-me ao encarte do primeiro disco do Belchior, de 1974,
em cuja canção passeio encontrei a resposta para o enigma:

meu pensamento
e meu sentimento
só tem o momento de fugir

no disco voador


além disso, outra coisa me chamou a atenção,
no jornal O Povo de hoje, em sua capa, mais uma pista elucidativa do misterium:


essa conjunção de "notas" das matérias não poderia ser por acaso!!


pra terminar tal elucidação,
deixo dois vídeos importantíssimos para o estudo do caso:


Vídeo amador de OVNI em Mulungu - possivelmente com Belchior a bordo, e cantando!



E a última aparição telúrica do cantor, em show de Tom Zé (um ser, notadamente, de outro planeta), em Brasília (lugar, notadamente, de outro planeta).



24.8.9.
Rodolfo Silva

terça-feira, 28 de julho de 2009

proximações trágicas: "Eu, Dioniso!"




Eu, Dioniso!


Cada duplo ser

Tem em mim seu lar:

Máscaras infames de seus inexoráveis destinos:

Esconde e busca teu rosto para não mais lembrar-se dele:

Exílio de si.



Tortuoso caminho: fértil florescer de violência.

Ditirâmbicos tropegares em teus pés de pó de tua boca oca

Destilado de uvas podres alegram o túrbido séquito

Vinho sorvido da boca de Hades.


Fortaleza, 28.7.9.
Rodolfo Silva

quarta-feira, 22 de julho de 2009

au revoir

Para Ana Maria Marias
(amiga mineira,
velha ama negra de leite,
avó de Sophia)


"Pensamento, mesmo o fundamento singular do ser humano
De um momento para o outro
Poderá não mais fundar nem gregos nem baianos"
Tempo Rei, Gilberto Gil

enquanto escrevo,
ouço.

no futuro
embarque em bolso, o velho
mundo.

à tiracolo, saber
novas entreperguntas
ao lado da avó.

tempo de providências
destabanadas asas e vagões alados:
- vô revoar!

Fortaleza, 22.7.9.
Rodolfo Silva

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Rodolfo e a Fotografia - 4a Exposição

Literatura - Fotografia - Cinema (2)


Foi em 2002 que conheci Marçal Aquino e sua literatura. Precisamente, em 28.8.2002., em Belo Horizonte. Naquele dia, momento decisivo, descobri-me numa seita: a Literatura, segundo o oráculo.

Li o livro, assisti ao filme. Nada de mais (brinco).

Tudo, quase tudo, detalhes, quase todos os detalhes, passaram desapercebidos diante de meus olhos.

Foi só, recente, que um olhar atento me levou a detalhes do livro.
O narrador do livro, Ivan, estrutura sua história a partir de seu olhar:

"Eu abri os olhos." Derradeira frase: chave-abertura, hermética-hermenêutica.

Disso, na escrita de um trabalho sobre o livro e o filme O invasor, em três momentos decisivos, distintos, uma fotografia do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson é mencionada. Ela se encontra na sala de Ivan, no escritório da construtora em que trabalha:

“Estevão faz uma pausa e olha para a foto que decora a parede às minhas costas: um casal atravessando uma rua cheia de poças, que refletem um céu baixo e nublado. Cartier-Bresson, Paris.” (O invasor, p. 36)

“Anísio entrou na minha sala, examinou o ambiente e se deteve diante da reprodução de Cartier-Bresson.” (O invasor, p.69)


“Parei diante da cena parisiense registrada por Cartier-Bresson. Eu estava emocionado. Toquei o quadro: Paris era um bom lugar para refrescar a cabeça enquanto eu decidia que rumo daria à minha vida.” (O invasor, p. 111)


A fotografia na parede e o olhar de quem a olha (Estevão, Anísio e Ivan, respectivamente) parecem fornecer ao narrador e, consequentemente, ao leitor elementos hermenêuticos que convidam para “abrir os olhos”, assim como Ivan o faz na iminência de sua morte.

Henri Cartier Bresson (1908-2004), o olho do século XX.

"Ele costumava afirmar que um bom fotógrafo deve captar o
instante decisivo

- o momento exato de bater a foto, quando se alinham
cabeça, olho e coração."

http://www.conteudoeditora.com.br/publicacoes/?ec=290&cs=15

Vendo, lendo, filme, livro,
atentei menos distraído para a fotografia.
Nesse percurso, estudo o olhar como articulador de discursos, construtor poético de narrativas.

A fotografia esbarra em meu caminho como pedra drummondiana.


Fortaleza, 19.7.9.
Rodolfo Silva

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Rodolfo e a Fotografia - 3a Exposição


Literatura – Fotografia – Cinema (1)


Eu costumava visitar o sebo da livraria Leitura no Minas Shopping, em BH. Eu sempre encontrava algum livro interessante. Numa tarde, antes de pegar o metrô para ir trabalhar em Contagem, eu encontrei o livro com os roteiros dos filmes Cortina de fumaça e Sem fôlego, escritos e dirigidos por Paul Auster e Wayne Wang. O livro ainda traz o CONTO DE NATAL DE AUGGIE WREN que gerou os filmes.


Ao ler o conto, dentro do metrô ou do ônibus, percebi que o século 20 tinha acabado. A pós-modernidade me arrebatara. Paul Auster era meu escritor preferido desde criancinha.


Mas foi ao assistir ao filme Cortina de fumaça que atentei para as fotografias de Auggie. Sem perceber, eu adentrara no universo da arte contemporânea e da fotografia. Um ensaio fotográfico sedutor através das palavras do escritor.




O CONTO DE NATAL DE AUGGIE WREN

Paul Auster

... Auggie considerava-se um artista. [...] Então, de maneira quase inevitável, chegou um momento em que ele me perguntou se eu gostaria de ver suas fotos. Dado seu entusiasmo e boa vontade, não havia como decepcioná-lo.

Deus sabe o que eu esperava encontrar. Mas não era nada parecido com o que Auggie me mostrou no dia seguinte. Num quarto pequeno e sem janelas nos fundos da loja, ele abriu uma caixa de papelão e tirou doze álbuns de fotos, exatamente iguais. Era a obra de sua vida, ele explicou, e gastara apenas cinco minutos por dia para realizá-la. Toda manhã, nos últimos doze anos, ele havia parado na esquina da Atlantic Avenue com a Clinton Street,e precisamente às oito horas havia tirado um única foto colorida, exatamente do mesmo ângulo. O projeto já incluía mais de quatro mil fotografias. Cada álbum representava um ano diferente, e todas as fotos estavam dispostas em sequência, de 1º de janeiro a 31 de dezembro, com as datas cuidadosamente registradas sob cada uma.

Enquanto eu folheava os álbuns, examinando o trabalho de Auggie, não sabia o que pensar. Minha primeira impressão foi de que era a coisa mais estranha e surpreendente que eu já havia visto. Todas as fotos eram iguais. O projeto constituía uma série anestésica e repetitiva que mostrava a mesma rua e os mesmos prédios infinitamente, num incansável delírio de imagens redundantes. Não consegui pensar em nada para dizer a Auggie, e continuei virando as páginas, balançando a cabeça em pretensa aprovação. O próprio Auggie parecia não se perturbar, observando-me com um largo sorriso no rosto, mas, depois, de eu olhar por vários minutos, subitamente ele me interrompeu e disse:

“Está virando depressa demais. Não vai entender nada se não for mais devagar”.

Ele tinha razão, é claro. Se você não se der tempo para olhar, nunca conseguirá enxergar nada. Apanhei outro álbum e forcei-me a vê-lo mais pausadamente. Prestei mais atenção nos detalhes, percebi as alterações do clima, observei os ângulos mutantes de luz, conforme as estações se sucediam. Finalmente pude detectar diferenças sutis no fluxo do trânsito, identificar o ritmo dos diversos dias (a agitação matinal dos dias úteis, a relativa tranquilidade dos fins de semana, o contraste entre os sábados e domingos). E então, pouco a pouco, comecei a reconhecer os rostos das pessoas vistas em primeiro plano, os pedestres a caminho do trabalho, as mesmas pessoas no mesmo lugar todas as manhãs, vivendo um instante de suas vidas no campo da máquina fotográfica de Auggie.

Quando comecei a reconhecê-las, passei a estudar suas atitudes, o modo como se conduziam de uma manhã a outra, tentando através desses indícios superficiais descobrir seus temperamentos, como se eu pudesse imaginar histórias para elas, como se pudesse penetrar os dramas invisíveis encerrados em seus corpos. Peguei outro álbum. Não estava mais entediado, não mais intrigado como estivera a princípio. Percebi que Auggie fotografava o tempo, o tempo natural assim como humano, e o fazia plantando-se numa pequena esquina do mundo e desejando que fosse sua, montando guarda no espaço que escolhera para si mesmo. Ao ver-me mergulhado em seu trabalho, Auggie continuava a sorrir, satisfeito. Então, quase como se estivesse lendo meus pensamentos, ele começou a recitar um verso de Shakespeare: “Amanhã, depois de amanhã e sempre”, sussurrou, “o tempo se arrasta com seu passo miúdo”. Compreendi que ele sabia exatamente o que estava fazendo.


trecho do livro:

CORTINA DE FUMAÇA & SEM FÔLEGO - dois filmes, de Paul Auster

páginas 180-183

Editora Best Seller


Fortaleza, 15.7.9.

Rodolfo Silva

domingo, 12 de julho de 2009

proximações trágicas: Édipo é de pó (i)

recente próximo,
estudei - centrípeto destino - treatro tragédia drama.

nesta semana, quero ensaiar algumas proximações ao teatro.
foi no curso de especialização em semiótica, com o professor-dramaturgo Aldo Marcozzi, que estive de novo, com a tragédia grega.

aponto meu percurso-destino:
1) o que me proxima da tragédia:
destino-morte-violência-vida, pulsões, instintos, mímesis-poiesis, anfibologia trágica.
a Poética, de Aristóteles.

2) exercício dramático:
escrita de um drama post-mosternum.

3) proximações, comparações:
recente, assisti ao filme Na natureza selvagem - Into the wild (EUA, 2007), de Sean Penn.
talvez seja cisma minha, mas acredito seja possível fazer um estudo comparativo entre a narrativa do filme e a técnica analítica da tragédia Édipo Rei - Oidipous Tyrannos (GRE, c. 427 a.C.), de Sófocles.


Fortaleza, 12.7.9.
Rodolfo Silva

sábado, 4 de julho de 2009

Rodolfo e a Fotografia - 2a Exposição

não me reconheço em foto 3por4.



a imagem dextrógira, sinistra, me redesenha, desdenha, escaneia, sacaneia. narciso teve mais sorte: mergulhou-se pelo encanto de sua imagem. hoje, não mergulho, esbarro na superfície. me prendo a ela. colo, colagem, fotocolagem. volto meus olhos à minha imagem. fotográfica, instantânea. pequeno mapa do tempo-espaço-retângulo, escala de cinza, espectro de cores. idades, cidades, identidades, documentos. momentos de cisões burocráticas.




odeio foto 3por4.






Eu não tenho mais a cara que eu tinha
no espelho essa cara já não é minha
Eu não vou me adaptar
Arnaldo Antunes


Fortaleza, 5.7.9.
Rodolfo Silva

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Rodolfo e a Fotografia - 1a Exposição



Toda essa gente se engana
ou finge que não vê que
eu nasci pra ser o superbacana
eu nasci pra ser o superbacana
superbacana
superhomem
supervinc
superflit
superist
superbacana
...
A moeda número 1 do Tio Patinhas não é minha
(SUPERBACANA, Caetano Veloso)




Caetano Veloso e Renato Aragão
SUPERBACANA
(basta assistir ao 1o minuto)

Eu não diria, com tanta certeza, que a fotografia nascera em 1826, em Paris,
num lerdo desenho da rápida luz,
com o engenho de Joseph Nicéphore Niépce.
8 horas, 1/3 do dia.
Dizem que antigamente o tempo passava mais lento.
Se não é mais assim, é por culpa do futurismo.


Fotografia de J.N. Niépce, de 1826
8 horas de exposição para a luz desenhar-se no papel



A fotografia nasceu
em maio de 1971, no Recife.

Como se pode ver nas raríssimas imagens gastas pelo tempo
num IBURA remoto, roto, numa Mustardinha remota, ignota.
Em algum lugar do passado.



Ricardo, Raquel, Rodolfo, Rosana e a Tevê.


"Rodolfo" - Reprodução de filme de monóculo



Fortaleza, 2.7.9.
Rodolfo Silva

segunda-feira, 22 de junho de 2009

desafio de ser vivo 1

para 4 amigos

D...

F...

G...

H...


Viver? “Viver é muito perigoso!” Frase de jagunço, doutor?, quase cangaceiro, uma questão de fronteira, perigosa. “E a vida, diga lá, o que é, meu irmão?” disseram ou li que foi Wittgenstein que escreveu: “o limite do meu mundo é o limite de minha linguagem”. Vice-versa também serve. Ora, qual meu limite? De uma linguagem linear, que ocupa, letra-a-letra, um espaço vazio, numa folha, numa tela. Ou no ar, ao falar. Descobri, recente, foi lendo Edgar Morin, que não vivo em crise. Vivo uma síncrise! Vivo síncrise! Sou síncrise? (quem quiser que vá a um dicionário – Aurélio ou Houaiss – o mesmo e sempre e velho, de descobertas palavras novas, pai-dos-burros-e-das-burras. Mas, lembre-se: “viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”). Vida contraditória vida! Vida, só possível no ilimitado universo, multiverso, por causa de uma ridícula limitação telúrica. Vida frágil vida! Planeta bola ovo azul, em suas limitadas variações, dia-noite, dia-noite, dia-noite, quente-frio, claro-escuro, perto-longe, quintal-universal. “Eu sou trezentos, trezentos-e-cincoenta”. Édipo é de pó! Meu pai também.


continua...


Fortaleza, 22.6.9.

Rodolfo Silva

Quixadá On The Air #01

Nos dias 15 e 16 de abril de 2023, aconteceu o  Final de Semana Pan-Americano do SOTA 2023.  A equipe SOTA CEARÁ, organizou uma expedição no...