Hoje é dia da Justiça e do lançamento da Campanha Contra a Anistia aosTorturadores.
Os crimes praticados durante a ditadura são crimes contra a humanidade e nesta medida não podem ser anistiados.
Em breve o Procurador Geral da República apresentará parecer sobre a matéria na ação (ADPF nº 153) que tramita no Supremo Tribunal Federal, que em sua decisão estabelecerá um novo marco de democracia para o país.
Pela importância desta decisão, o Comitê Contra a Anistia aos Torturadores, estabeleceu, num primeiro momento, que faremos uma "petição on line".
Precisamos a maior adesão possível de pessoas ou entidades.
Precisamos que todos enviem mensagem para todos os contatos possíveis e imagináveis, do Brasil e de fora, para :
a) informar da campanha ( o texto esta em português, inglês e espanhol)
b) pedir subscrição de pessoas e entidades
c) pedir para colocar o banner da campanha ( abaixo) em sites para a maior divulgação possível.
Saudações
Comitê contra a anistia dos torturados
uma iniciativa da associaçao de juizes pela democracia,
perguntei a dois amigos advogados sobre a (i)legalidade do que diz o edital de convocação para a 2a fase do concurso para professor da rede estadual de ensino do Ceará.
no item 2.7 do referido edital, lê-se:
"No dia de realização da prova prática (aula), em cada turno de sua realização, OS CANDIDATOS PERMANECERÃO CONFINADOS em uma sala de espera, por aproximadamente 4 horas." [grifo meu]
ambos, experientes concurseiros de outrora:
1) ficaram surpresos com os termos do edital;
2) chegaram à conclusão de que ninguém é obrigado a ser confinado, mas ao deixar de fazê-lo será eliminado do certame.
colegas professores(as) sentem-se - eu junto - sentimo-nos, no mínimo, desrespeitados.
mas, o que esperamos mesmo de um país que valoriza (qualquer que seja o sentido adotado e interpretado desse vocábulo) tão pouco seus educadores e educadoras?
talvez, o que mereçamos seja mesmo o confinamento!
não seria melhor, mais trágico, o banimento?
no fim das contas, essa 2a etapa do concurso será um verdadeiro reality show,
um misto de BigBrother com Ídolos comSe vira nos trinta.
afinal
estaremos confinados
seremos filmados
apresentaremos performances diante de 3 jurados, ops!, avaliadores
"Se um livro que estamos lendo não nos desperta como um golpe na cabeça, por que o lemos? Meu Deus, seríamos felizes também se não tivéssemos livros, e se os livros que nos tornam felizes, pudéssemos nós mesmos escrevê-los. Mas os livros dos quais temos necessidade são os que caem sobre nós como a desgraça, que nos perturbam profundamente como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como um suicídio. Um livro deve ser como uma picareta que rompa o mar de gelo que está dentro de nós."
Kafka
(epígrafe do livro Coélet, de Gianfranco Ravasi,
Edições Paulinas, 1993)
bem, para mim, a obra de Franz Kafka era LO++, segundo o sistema de notações criado por Pierre Bayard (*). mas sou grato a uma professora de teoria literária (que tive há um ano). ela, simplesmente, adotou "A metamorfose" para ser estudado durante sua disciplina. tal vetor kafkiano mudou, drasticamente, minha trajetória de leitor.
voltando-me a Bayard, anotei logo no início da leitura do livro (em 16.10.8) a seguinte frase, em relação ao que acabara de ler: "eu poderia ter escrito tal parágrafo."
"Nascido em um meio onde se lia pouco, não apreciando esta atividade e de todo modo não tendo tempo de me dedicar a ela, com frequência me vi, por conta de determinadas circunstâncias, habituais na vida, em situações delicadas nas quais fui obrigado a me expressar a respeito de livros que não tinha lido."
(Como falar dos livros que não lemos?
Pierre Bayard
Editora Objetiva, 2007)
(*)LO + +: livro de que ouvi falar; opinião muito positiva.
bem ou mal, pelo menos com a leitura das narrativas de Kafka, quero poder falar de algo que sei, gostaria de saber, aproximando-me, tangenciando o(s) sentido(s).
talvez por ser fim-de-ano, me atrevo a propor ler os livros kafkianos em 2010. (pura influência do genial livro que descobri no fim-de-semana passado:)
Kafka de Crumb (Introducing Kafka) textos de David Zane Mairowitz desenhos de Robert Crumb Relume Dumará, 2006
para uma introdução ao universo kafkiano, sugiro mais dois livros:
à esquerda: Lição de Kafka Modesto Carone Companhia das Letras, 2009
à direita: Kafka Gérard-Georges Lemaire L&PM, 2006
“Antes que mergulhem os pássaros, novo rumor se inicia, este em Cecília: soalhas de pandeiros. Respondem logo ao rumor, à direita, com um pouco mais de intensidade, outros tantos pandeiros, tangidos por meninas entre dez e treze anos. Eis-nos escoltados pelos dois cordões do pastoril, sete figuras de um lado, com longas saias vermelhas; sete de outro, com longas saias azuis, algumas desbotadas. Entre os dois cordões e de tal modo que parte do seu corpo trespassa o de Cecília, vai a Diana, vestida de azul e vermelho, sinal de que pertence às duas alas. No pandeiro redondo, maoir que os das pastoras e que ela faz soar com os braços levantados, também esvoaçam fitas vermelhas e azuis. Das mesmas cores é o grande laço que prende seus cabelos crespos. As pernas da Diana e as de Cecília, dançando as da primeira, andando as da segunda, trançam-se. Nem todas as meninas trazem pandeiros. Duas conduzem uma cesta com jambos, laranjas e mangas-rosas; duas sobraçam dálias, lírios e açucenas. A Diana, cessando de tocar, ergue ainda mais os braços, faz-se silêncio e todos nós paramos. Rugem leões verdes, nas ondas, entre os peixes. As pastoras, de repente, iniciam uma loa, marcando o compasso da música com os pés e os pandeiros, estes enfeitados de fitas como a grande roda desaparecida:
Vinde, vinde, moços e velhos,
Vinde todos apreciar,
Como isto é bom, como isto é belo,
Como isto é bom e bom demais.”
Osman Lins, Avalovara– T 12: Cecília entre os leões (1973)
“Outro fator de encantamento poético, no filme, são as maravilhosas roupagens, coroas e máscaras do teatro nordestino, que ali aparecem de passagem. O povo do Nordeste sabe, com uma arte estranha e poderosa, criar a beleza a partir da miséria, e consegue manter sua grandeza no meio da maior degradação. As moças vestem-se de dianas, princesas, damas e rainhas; os homens, de reis mouros, cruzados, príncipes e cavaleiros, com máscaras de couro e coroas de lata, espadas de madeira e chapéus de formas estranhas, cravejadas de pedrarias, que parecem templos asiáticos. São os pobres e belos sonhos do povo que se veste assim para sonhar com o poder e a glória, cujas portas, na vida, lhe são trancadas.”
Ariano Suassuna, “Cinema e Sertão” (sobre o filme ‘O País de São Saruê’, de Vladimir Carvalho) (1972)
“A fome latina, por isto, não é somente um sintoma alarmante: é o nervo de sua própria sociedade. Aí reside a trágica originalidade do Cinema Novo diante do cinema mundial: nossa originalidade é a nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida. [...]
Nós compreendemos esta fome que o europeu e o brasileiro na maioria não entende. Para o europeu é um estranho surrealismo tropical. Para o brasileiro é uma vergonha nacional. Ele não come, mas tem vergonha de dizer isto; e, sobretudo, não sabe de onde vem esta fome. Sabemos nós - que fizemos estes filmes feios e tristes, estes filmes gritados e desesperados onde nem sempre a razão falou mais alto - que a fome não será curada pelos planejamentos de gabinete e que os remendos do technicolor não escondem mas agravam seus tumores. Assim, somente uma cultura da fome, minando suas próprias estruturas, pode superar-se qualitativamente: a mais nobre manifestação cultural da fome é a violência.
Qualquer arte tangencia o limite da realidade, da linguagem, da própria arte. Tem uma tendência à margem.
Propor uma nova visão é lugar comum à arte – desde o século 20 e seu incrível maquinário?
Em lugares de arte, pelas ruas de Fortaleza, pergunta-se: “qual o lugar da arte?” – não é esse o tema do 60º Salão de Abril, neste ano?
A Universidade é lugar de arte? De um certo conhecimento... Talvez a arte devesse ser uma janela, uma margem, na pior das hipóteses, um excremento da universidade – reciclável, claro, límpido.
Workshop sobre a “Nova Visão”. Uma exposição de olhares da universidade: de fora pra dentro, de dentro pra fora, fora fora, dentro dentro: nova visão. Fotógrafos inexperientes, imprudentes, experientes, peritos, artístas, metidos. Uma democracia da arte.
Do lado de fora da universidade. Ao lado do lixo. À margem. No muro marginal, na rua marginal.
As fotografias no muro: janelas – bordas viradas pra dentro da universidade – olhos pra fora, vendo o que a universidade não vê.
foi entre os dias 28 e 30 de setembro que aconteceu: workshop sobre a estética da Nova Visão alemã (na Casa de Cultura Alemã/UFC, juntamente com Instituto Goethe e DAAD).
vimos, fotografias e filmes que foram produzidos a partir da perspectiva da vanguarda artística da 1a metade do século 20.
símbolo do Bauhaus
Moholy-Nagy
Umbo
proposta: sair, ao sol de meio-dia e fotografar o Campus do Benfica/UFC e seu entorno.
ERA UM PACATO CIDADÃO SEM DOCUMENTO NÃO TINHA NOME PROFISSÃO NÃO TINHA TEMPO MAS CERTO DIA DEU-SE UM CASO E ELE EMBARCOU NUM DISCO E FOI LEVADO PRA BEM LONGE DO ASTERISCO EM QUE VIVEMOS
daqui pra lá de lá pra cá (Fagner/Zeca Beleiro/Torquato Neto)
não é por nada não, mas... sem querer incentivar qq teoria da conspiração, mas...
ontem, peguei a reportagem sobre o Belchior, no Fantástico, no finzinho e não entendi o que era... hoje, novamente - até me perguntei: será que Belchior morreu!?
mas, depois, entendi: ele desaparecera!
só então, percebi o que acontecera:
desconfiado de algo, voltei-me ao encarte do primeiro disco do Belchior, de 1974, em cuja canção passeio encontrei a resposta para o enigma:
meu pensamento e meu sentimento só tem o momento de fugir no disco voador
além disso, outra coisa me chamou a atenção, no jornal O Povo de hoje, em sua capa, mais uma pista elucidativa do misterium:
essa conjunção de "notas" das matérias não poderia ser por acaso!!
pra terminar tal elucidação, deixo dois vídeos importantíssimos para o estudo do caso:
Vídeo amador de OVNI em Mulungu - possivelmente com Belchior a bordo, e cantando!
E a última aparição telúrica do cantor, em show de Tom Zé (um ser, notadamente, de outro planeta), em Brasília (lugar, notadamente, de outro planeta).
Para Ana Maria Marias (amiga mineira, velha ama negra de leite, avó de Sophia)
"Pensamento, mesmo o fundamento singular do ser humano De um momento para o outro Poderá não mais fundar nem gregos nem baianos" Tempo Rei, Gilberto Gil
enquanto escrevo, ouço.
no futuro embarque em bolso, o velho mundo.
à tiracolo, saber novas entreperguntas ao lado da avó.
tempo de providências destabanadas asas e vagões alados: - vô revoar!
Foi em 2002 que conheci Marçal Aquino e sua literatura. Precisamente, em 28.8.2002., em Belo Horizonte. Naquele dia, momento decisivo, descobri-me numa seita: a Literatura, segundo o oráculo.
Li o livro, assisti ao filme. Nada de mais (brinco).
Tudo, quase tudo, detalhes, quase todos os detalhes, passaram desapercebidos diante de meus olhos.
Foi só, recente, que um olhar atento me levou a detalhes do livro. O narrador do livro, Ivan, estrutura sua história a partir de seu olhar:
"Eu abri os olhos." Derradeira frase: chave-abertura, hermética-hermenêutica.
Disso, na escrita de um trabalho sobre o livro e o filme O invasor, em três momentos decisivos, distintos, uma fotografia do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson é mencionada. Ela se encontra na sala de Ivan, no escritório da construtora em que trabalha:
“Estevão faz uma pausa e olha para a foto que decora a parede às minhas costas: um casal atravessando uma rua cheia de poças, que refletem um céu baixo e nublado. Cartier-Bresson, Paris.” (O invasor, p. 36)
“Anísio entrou na minha sala, examinou o ambiente e se deteve diante da reprodução de Cartier-Bresson.” (O invasor, p.69)
“Parei diante da cena parisiense registrada por Cartier-Bresson. Eu estava emocionado. Toquei o quadro: Paris era um bom lugar para refrescar a cabeça enquanto eu decidia que rumo daria à minha vida.” (O invasor, p. 111)
A fotografia na parede e o olhar de quem a olha (Estevão, Anísio e Ivan, respectivamente) parecem fornecer ao narrador e, consequentemente, ao leitor elementos hermenêuticos que convidam para “abrir os olhos”, assim como Ivan o faz na iminência de sua morte.
Henri Cartier Bresson (1908-2004), o olho do século XX.
"Ele costumava afirmar que um bom fotógrafo deve captar o instante decisivo - o momento exato de bater a foto, quando se alinham cabeça, olho e coração." http://www.conteudoeditora.com.br/publicacoes/?ec=290&cs=15
Vendo, lendo, filme, livro, atentei menos distraído para a fotografia. Nesse percurso, estudo o olhar como articulador de discursos, construtor poético de narrativas.
A fotografia esbarra em meu caminho como pedra drummondiana.
Eu costumava visitar o sebo da livraria Leitura no Minas Shopping, em BH. Eu sempre encontrava algum livro interessante. Numa tarde, antes de pegar o metrô para ir trabalhar em Contagem, eu encontrei o livro com os roteiros dos filmes Cortina de fumaça e Sem fôlego, escritos e dirigidos por Paul Auster e Wayne Wang. O livro ainda traz o CONTO DE NATAL DE AUGGIE WREN que gerou os filmes.
Ao ler o conto, dentro do metrô ou do ônibus, percebi que o século 20 tinha acabado. A pós-modernidade me arrebatara. Paul Auster era meu escritor preferido desde criancinha.
Mas foi ao assistir ao filme Cortina de fumaça que atentei para as fotografias de Auggie. Sem perceber, eu adentrara no universo da arte contemporânea e da fotografia. Um ensaio fotográfico sedutor através das palavras do escritor.
O CONTO DE NATAL DE AUGGIE WREN
Paul Auster
... Auggie considerava-se um artista. [...] Então, de maneira quase inevitável, chegou um momento em que ele me perguntou se eu gostaria de ver suas fotos. Dado seu entusiasmo e boa vontade, não havia como decepcioná-lo.
Deus sabe o que eu esperava encontrar. Mas não era nada parecido com o que Auggie me mostrou no dia seguinte. Num quarto pequeno e sem janelas nos fundos da loja, ele abriu uma caixa de papelão e tirou doze álbuns de fotos, exatamente iguais. Era a obra de sua vida, ele explicou, e gastara apenas cinco minutos por dia para realizá-la. Toda manhã, nos últimos doze anos, ele havia parado na esquina da Atlantic Avenue com a Clinton Street,e precisamente às oito horas havia tirado um única foto colorida, exatamente do mesmo ângulo. O projeto já incluía mais de quatro mil fotografias. Cada álbum representava um ano diferente, e todas as fotos estavam dispostas em sequência, de 1º de janeiro a 31 de dezembro, com as datas cuidadosamente registradas sob cada uma.
Enquanto eu folheava os álbuns, examinando o trabalho de Auggie, não sabia o que pensar. Minha primeira impressão foi de que era a coisa mais estranha e surpreendente que eu já havia visto. Todas as fotos eram iguais. O projeto constituía uma série anestésica e repetitiva que mostrava a mesma rua e os mesmos prédios infinitamente, num incansável delírio de imagens redundantes. Não consegui pensar em nada para dizer a Auggie, e continuei virando as páginas, balançando a cabeça em pretensa aprovação. O próprio Auggie parecia não se perturbar, observando-me com um largo sorriso no rosto, mas, depois, de eu olhar por vários minutos, subitamente ele me interrompeu e disse:
“Está virando depressa demais. Não vai entender nada se não for mais devagar”.
Ele tinha razão, é claro. Se você não se der tempo para olhar, nunca conseguirá enxergar nada. Apanhei outro álbum e forcei-me a vê-lo mais pausadamente. Prestei mais atenção nos detalhes, percebi as alterações do clima, observei os ângulos mutantes de luz, conforme as estações se sucediam. Finalmente pude detectar diferenças sutis no fluxo do trânsito, identificar o ritmo dos diversos dias (a agitação matinal dos dias úteis, a relativa tranquilidade dos fins de semana, o contraste entre os sábados e domingos). E então, pouco a pouco, comecei a reconhecer os rostos das pessoas vistas em primeiro plano, os pedestres a caminho do trabalho, as mesmas pessoas no mesmo lugar todas as manhãs, vivendo um instante de suas vidas no campo da máquina fotográfica de Auggie.
Quando comecei a reconhecê-las, passei a estudar suas atitudes, o modo como se conduziam de uma manhã a outra, tentando através desses indícios superficiais descobrir seus temperamentos, como se eu pudesse imaginar histórias para elas, como se pudesse penetrar os dramas invisíveis encerrados em seus corpos. Peguei outro álbum. Não estava mais entediado, não mais intrigado como estivera a princípio. Percebi que Auggie fotografava o tempo, o tempo natural assim como humano, e o fazia plantando-se numa pequena esquina do mundo e desejando que fosse sua, montando guarda no espaço que escolhera para si mesmo. Ao ver-me mergulhado em seu trabalho, Auggie continuava a sorrir, satisfeito. Então, quase como se estivesse lendo meus pensamentos, ele começou a recitar um verso de Shakespeare: “Amanhã, depois de amanhã e sempre”, sussurrou, “o tempo se arrasta com seu passo miúdo”. Compreendi que ele sabia exatamente o que estava fazendo.
trecho do livro:
CORTINA DE FUMAÇA & SEM FÔLEGO - dois filmes, de Paul Auster
nesta semana, quero ensaiar algumas proximações ao teatro. foi no curso de especialização em semiótica, com o professor-dramaturgo Aldo Marcozzi, que estive de novo, com a tragédia grega.
aponto meu percurso-destino: 1) o que me proxima da tragédia: destino-morte-violência-vida, pulsões, instintos, mímesis-poiesis, anfibologia trágica. a Poética, de Aristóteles.
2) exercício dramático: escrita de um drama post-mosternum.
3) proximações, comparações: recente, assisti ao filme Na natureza selvagem - Into the wild (EUA, 2007), de Sean Penn. talvez seja cisma minha, mas acredito seja possível fazer um estudo comparativo entre a narrativa do filme e a técnica analítica da tragédia Édipo Rei - Oidipous Tyrannos (GRE, c. 427 a.C.), de Sófocles.
a imagem dextrógira, sinistra, me redesenha, desdenha, escaneia, sacaneia. narciso teve mais sorte: mergulhou-se pelo encanto de sua imagem. hoje, não mergulho, esbarro na superfície. me prendo a ela. colo, colagem, fotocolagem. volto meus olhos à minha imagem. fotográfica, instantânea. pequeno mapa do tempo-espaço-retângulo, escala de cinza, espectro de cores. idades, cidades, identidades, documentos. momentos de cisões burocráticas.
odeio foto 3por4.
Eu não tenho mais a cara que eu tinha no espelho essa cara já não é minha Eu não vou me adaptar Arnaldo Antunes
ou finge que não vê que eu nasci pra ser o superbacana eu nasci pra ser o superbacana superbacana superhomem supervinc superflit superist superbacana ... A moeda número 1 do Tio Patinhas não é minha (SUPERBACANA, Caetano Veloso)
Caetano Veloso e Renato Aragão SUPERBACANA (basta assistir ao 1o minuto)
Eu não diria, com tanta certeza, que a fotografia nascera em 1826, em Paris, num lerdo desenho da rápida luz, com o engenho de Joseph Nicéphore Niépce. 8 horas, 1/3 do dia. Dizem que antigamente o tempo passava mais lento. Se não é mais assim, é por culpa do futurismo.
Fotografia de J.N. Niépce, de 1826 8 horas de exposição para a luz desenhar-se no papel
A fotografia nasceu em maio de 1971, no Recife.
Como se pode ver nas raríssimas imagens gastas pelo tempo num IBURA remoto, roto, numa Mustardinha remota, ignota. Em algum lugar do passado.
Viver? “Viver é muito perigoso!” Frase de jagunço, doutor?, quase cangaceiro, uma questão de fronteira, perigosa. “E a vida, diga lá, o que é, meu irmão?” disseram ou li que foi Wittgenstein que escreveu: “o limite do meu mundo é o limite de minha linguagem”. Vice-versa também serve. Ora, qual meu limite? De uma linguagem linear, que ocupa, letra-a-letra, um espaço vazio, numa folha, numa tela. Ou no ar, ao falar. Descobri, recente, foi lendo Edgar Morin, que não vivo em crise. Vivo uma síncrise! Vivo síncrise! Sou síncrise? (quem quiser que vá a um dicionário – Aurélio ou Houaiss – o mesmo e sempre e velho, de descobertas palavras novas, pai-dos-burros-e-das-burras. Mas, lembre-se: “viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”). Vida contraditória vida! Vida, só possível no ilimitado universo, multiverso, por causa de uma ridícula limitação telúrica. Vida frágil vida! Planeta bola ovo azul, em suas limitadas variações, dia-noite, dia-noite, dia-noite, quente-frio, claro-escuro, perto-longe, quintal-universal. “Eu sou trezentos, trezentos-e-cincoenta”. Édipo é de pó! Meu pai também.