domingo, 13 de maio de 2018

Disciplina e violência (um comentário à especialidade do Bolsonaro)


Durante esta semana, circulou notícias sobre um memorando de 1974, no qual a CIA tratava das execuções realizadas pelo governo militar, naquele período.

Antes disso, eu andava buscando formas de registrar uma inquietante frase do ex-militar e agora deputado federal Jair Bolsonaro. Numa reunião em Porto Alegre, em 29 de junho de 2017,  segundo vídeo que circula na internet, ele afirma: “Minha especialidade é matar”, justificando essa especialidade à sua formação militar.

Em 23 de maio de 1999, numa entrevista ao Programa Câmera Aberta, no Rio de Janeiro, o ex-militar diz explicitamente ao jornalista: “Eu sou favorável à tortura. O povo é favorável a isso também.”

Pesquisei rapidamente a biografia dessa figura pública: Entrou no exército em 1973, com 18 anos, na Escola Preparatória de Cadetes do Exército. E teve formação especializada em órgãos do exército até a entrada na reserva, em 1988. Curioso é notar a concomitância de sua vida militar, que durou 15 anos, com o período da ditadura militar, entre 1973 e 1984.

Já se passaram 30 anos que o referido parlamentar deixou a carreira militar (o dobro de tempo de sua passagem nas forças armadas), mas a mentalidade militar não saiu dele. Mas não foi só a mentalidade militar que não o deixou, permaneceu, ainda, o lado perverso da experiência da ditadura militar, sua pulsão e seu desejo por morte.

E, para completar, no último dia 11 de maio de 2018, em entrevista à Rádio Super Notícia, em Belo Horizonte, ao comentar o tal memorando CIA, de 1974: “Quem nunca deu um tapa no bumbum do filho e depois se arrependeu?”.

Há um senso comum que relaciona a disciplina aos filhos, justificada como expressão do amor - digamos, parental - à violência (castigos físicos, como a palmada). É provável que haja um equivalente para o amor pátrio: a disciplina (tortura) realizada pelos pais (governo), plenamente justificável, como bem personaliza o que é defendido pelo ex-militar.

Há quase 7 anos, eu sou pai: de um menino de 6,5 anos, de um menino de quase 5 e de uma menina de 9 meses. Em casa, decidimos não fazer uso de recursos físicos para castigar ou corrigir ou disciplinar nossos filhos e filha. (No nosso contexto mais geral, há uma prerrogativa bíblica que justifica esse dispositivo educativo. Noutro momento, gostaria de expressar minha convicção, também bíblica, para a nossa atitude).

Na abrangência de determinado contexto interpretativo, eu compreendo a escolha de pais e mães para o uso corretivo de palmadas ou o que seja a corporificação da “vara da disciplina”, apesar de não concordar. O que eu não compreendo e não admito é que essa “chave hermenêutica”, que articula disciplina e violência, seja acolhida para fins políticos e ideológicos que legitimam e naturalizam que um agente público, militar ou congressista, reiterem expedientes discursivos como plataforma de um governo minimamente ético, democrático, republicano.


Fortaleza, 13 de maio de 2018.
Dia das mães.
130 anos da abolição da escravatura (!?)

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