Durante esta semana, circulou notícias sobre um memorando de
1974, no qual a CIA tratava das execuções realizadas pelo governo militar,
naquele período.
Antes disso, eu andava buscando formas de registrar uma
inquietante frase do ex-militar e agora deputado federal Jair Bolsonaro. Numa
reunião em Porto Alegre, em 29 de junho de 2017, segundo vídeo que circula na internet, ele
afirma: “Minha especialidade é matar”, justificando essa especialidade à sua
formação militar.
Em 23 de maio de 1999, numa entrevista ao Programa Câmera
Aberta, no Rio de Janeiro, o ex-militar diz explicitamente ao jornalista: “Eu
sou favorável à tortura. O povo é favorável a isso também.”
Pesquisei rapidamente a biografia dessa figura pública: Entrou no exército em
1973, com 18 anos, na Escola Preparatória de Cadetes do Exército. E teve
formação especializada em órgãos do exército até a entrada na reserva, em 1988.
Curioso é notar a concomitância de sua vida militar, que durou 15 anos, com o
período da ditadura militar, entre 1973 e 1984.
Já se passaram 30 anos que o referido parlamentar deixou a
carreira militar (o dobro de tempo de sua passagem nas forças armadas), mas a
mentalidade militar não saiu dele. Mas não foi só a mentalidade militar que não
o deixou, permaneceu, ainda, o lado perverso da experiência da ditadura
militar, sua pulsão e seu desejo por morte.
E, para completar, no último dia 11 de maio de 2018, em entrevista à Rádio
Super Notícia, em Belo Horizonte, ao comentar o tal memorando CIA, de 1974:
“Quem nunca deu um tapa no bumbum do filho e depois se arrependeu?”.
Há um senso comum que relaciona a disciplina aos filhos,
justificada como expressão do amor - digamos, parental - à violência (castigos
físicos, como a palmada). É provável que haja um equivalente para o amor
pátrio: a disciplina (tortura) realizada pelos pais (governo), plenamente
justificável, como bem personaliza o que é defendido pelo ex-militar.
Há quase 7 anos, eu sou pai: de um menino de 6,5 anos, de um
menino de quase 5 e de uma menina de 9 meses. Em casa, decidimos não fazer uso
de recursos físicos para castigar ou corrigir ou disciplinar nossos filhos e
filha. (No nosso contexto mais geral, há uma prerrogativa bíblica que justifica
esse dispositivo educativo. Noutro momento, gostaria de expressar minha convicção,
também bíblica, para a nossa atitude).
Na abrangência de determinado contexto interpretativo, eu compreendo a escolha
de pais e mães para o uso corretivo de palmadas ou o que seja a corporificação
da “vara da disciplina”, apesar de não concordar. O que eu não compreendo e não
admito é que essa “chave hermenêutica”, que articula disciplina e violência,
seja acolhida para fins políticos e ideológicos que legitimam e naturalizam que
um agente público, militar ou congressista, reiterem expedientes discursivos como
plataforma de um governo minimamente ético, democrático, republicano.
Fortaleza, 13 de maio de 2018.
Dia das mães.
130 anos da abolição da escravatura (!?)